Resolução da prova de Ciências Humanas da 2a fase da Unesp 2016 meio de ano, aplicada no dia 11 de junho de 2016.
A resolução da prova é do Objetivo
O caderno da prova está disponível aqui
Questões
1) Dentro das condições mais suaves do Egito, com céus
sem nuvens e uma enchente anual previsível e uniforme,
uma regularidade moderada contrasta com o ambiente
tempestuoso e turbulento, os relâmpagos, as catastróficas
torrentes e inundações, das regiões mais orientais. Tão
logo os novos cereais e a cultura do arado foram introduzidos no Egito, houve semelhante superabundância de
alimentos, e por causa dela, sem dúvida, uma superabundância de bebês. Mas todos os feitos de domesticação do
Egito foram realizados sob um céu sem nuvens de
tempestade, intocado por sombrias incertezas, não amargurado nem atormentado por repetidas derrotas. A vida
era boa.
(Lewis Mumford. A cidade na história: suas origens,
transformações e perspectivas, 1991. Adaptado.)
Caracterize, a partir do texto, o papel do rio Nilo no
desenvolvimento da região e justifique a afirmação de que
“a vida era boa” no Antigo Egito.
Resolução: O Rio Nilo, cujas enchentes anuais inundavam as
áreas próximas a seu leito, propor cionava às terras
cultiváveis a fertilidade necessária para a realização
de grandes colheitas. A abundância de alimentos
favoreceu o crescimento demográfico do país,
lançando as bases da civilização egípcia. Outro motivo
para essa evolução foi o fato de o Egito estar protegido
de invasões pelos desertos existentes a leste e a oeste do
Vale do Nilo. Quanto à afirmação de que no Egito “a
vida era boa”, o texto a justifica citando a estabilidade
do clima, a ausência de catástrofes naturais, a
disponibilidade de alimentos e a pequena ocorrência
de convulsões internas e ataques externos.
Obs.: A avaliação de que no Egito a vida era boa
certamente se deve ao ponto de vista de alguém
pertencente aos estamentos médios e superiores, pois
seria temerário atribuí-la a um felá (camponês) ou a
um trabalhador das construções monumentais
projetadas pelos faraós, como as pirâmides.
2) Esta terra, Senhor, me parece que da ponta que mais
contra o sul vimos até a outra ponta que contra o norte
vem, de que nós deste porto houvemos vista, será
tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco
léguas por costa. Traz, ao longo do mar, nalgumas partes,
grandes barreiras, delas vermelhas e delas brancas; e a
terra por cima toda chã e muito cheia de grandes
arvoredos. De ponta a ponta, é toda praia parma, muito
chã e muito formosa. [...]
Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem
prata, nem coisa alguma de metal nem de ferro; nem lho
vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares [...].
Águas são muitas; infindas. Em tal maneira é graciosa
que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem
das águas que tem.
Porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece
que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal
semente que vossa alteza em ela deve lançar.
(Carta de Pero Vaz de Caminha, 1500. http://objdigital.bn.br.)
Identifique duas das motivações da colonização portuguesa do Brasil citadas na Carta, indicando os trechos do
documento que as mencionam.
Resolução
O trecho transcrito permite identificar duas das
motivações que levariam Portugal a colonizar o
Brasil: a atividade agrícola (“a terra [...] Em tal
maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, darse-á
nela tudo”) e o propósito de converter os nativos
à fé católica (“Porém o melhor fruto, que nela se pode
fazer, me parece que será salvar esta gente.”).
3) Um dos elementos marcantes do imaginário republicano
francês foi o uso da alegoria feminina para representar a
República. A Monarquia representava-se naturalmente
pela figura do rei, que, eventualmente, simbolizava a
própria nação. Derrubada a Monarquia, decapitado o rei,
novos símbolos faziam-se necessários para preencher o
vazio, para representar as novas ideias e ideais, como a
revolução, a liberdade, a república, a própria pátria. Entre
os muitos símbolos e alegorias utilizados, em geral
inspirados na tradição clássica, salienta-se o da figura
feminina.
(José Murilo de Carvalho. A formação das almas, 1990.)
Estabeleça uma relação entre o texto e a imagem. Indique
três elementos da imagem que justifiquem a relação
estabelecida.
Resolução
O texto realça a necessidade de se criar uma nova
simbologia para identificar o regime republicano, em
substituição aos ícones da Monarquia; nesse sentido,
aborda o realce dado à imagem feminina, no lugar
antes ocupado pela figura patriarcal do monarca. A
ilustração vai ao encontro dessa análise apresentando
mulheres (alusões à Pátria e à República como
entidades femininas e maternais), crianças (evocando
o novo regime) e a Bandeira Nacional (síntese do novo
momento histórico, relacionado com a implantação e
a construção da República).
4) A Segunda Guerra Mundial mal terminara quando a
humanidade mergulhou no que se pode encarar, razoavelmente, como uma Terceira Guerra Mundial, embora uma
guerra muito peculiar. [...] Gerações inteiras se criaram à
sombra de batalhas nucleares globais que, acreditava-se
firmemente, podiam estourar a qualquer momento, e
devastar a humanidade. [...] Não aconteceu, mas por cerca
de quarenta anos pareceu uma possibilidade diária.
(Eric Hobsbawm. Era dos extremos, 1995.)
Identifique o conflito a que o texto se refere e caracterize
as forças em confronto.
Resolução
O texto se refere à Guerra Fria – confronto que, sem
registrar choques militares diretos, opôs as duas
superpotências que emergiram da Segunda Guerra
Mundial. Tratava-se dos Estados Unidos e da União
Soviética: o primeiro, representando o sistema capitalista e o regime democrático; a segunda representando o sistema socialista e o regime totalitário.
5)
Identifique a forma de relevo indicada pela seta e o
processo responsável por sua formação. Considerando
seus diferentes agentes formadores, cite dois exemplos de
classificação desta forma de relevo.
Resolução
A figura mostra uma planície, formada pela deposição
de sedimentos transportados dos planaltos próximos,
através dos rios ou do vento. No planalto, ocorre a
erosão das superfícies, cujo material, transportado
pelo rio ou pelo vento, chega à planície e se espalha
pelo transbordamento da via hidrográfica ou por
efeito da deposição eólica. Tal formação é, em geral,
classificada como uma planície (aluvial ou eólica), ou
então como uma depressão, caso ela esteja encaixada
entre planaltos e planícies, e cuja diferença está no
predomínio da erosão.
6) O livro de Nnimmo Bassey rompe com dois lugares
comuns que têm prevalecido nos discursos sobre a África:
1) o continente é sempre interpretado como vítima de um
passado colonial onipresente que o incapacita a sair do
quadro de miséria e subdesenvolvimento, é como se a
África estivesse condenada pelo passado, uma região sem
presente; 2) o continente caracteriza-se por infindáveis
lutas fratricidas e tribais. Aliás, esse conceito de tribo é
reiteradas vezes usado para caracterizar os conflitos e
lutas do continente, impondo-se assim um conceito que,
na literatura colonialista, é oposto ao conceito de
civilização. Haja eurocentrismo! Não, para Nnimmo
Bassey essa história colonial não condena o presente
desse continente e seus povos por uma simples razão: o
fim do colonialismo não significou o fim da colonialidade
que, assim, se mostra irmão siamês do capitalismo na sua
sanha de acumulação de capital.
(Denilson A. Oliveira e Carlos W. Porto-Gonçalves. “Apresentação
à edição brasileira”. In: Nnimmo Bassey. Aprendendo com a África,
2015. Adaptado.)
Explicite o modo de estabelecimento das fronteiras no
continente africano durante o período colonial e o
contexto em que grande parte dos movimentos por
descolonização ocorreram. Cite dois exemplos de como a
colonialidade se expressa nesse continente.
Resolução
As fronteiras africanas, na verdade, as fronteiras entre
os domínios coloniais africanos, foram estabelecidas,
ou mais propriamente consolidadas, com o Congresso
de Berlim, entre 1884 e 1885. Essas fronteiras foram
desenhadas sem levar em conta os interesses das
nações daquele continente, pensando-se, apenas, nas
motivações econômicas e políticas das potências
imperialistas europeias.
O processo de descolonização ocorreu prevalentemente após a Segunda Guerra Mundial – no
contexto da Guerra Fria, do confronto Oeste-Leste –,
e não extinguiu as relações desiguais entre os jovens
países africanos e suas antigas metrópoles. A ideia de
colonialidade, que sobreviveu à emancipação dos
países africanos, expressa-se [I] na subordinação das
economias dos jovens Estados africanos ao capital
internacional, com grande peso para as
multinacionais com origem em suas antigas
metrópoles; [II] na influência política que os países
africanos ainda sofrem de suas antigas metrópoles,
devido – em grande parte – à origem dos recursos
dirigidos para amenizar os graves problemas sociais
do continente, como fome, doenças endêmicas e
epidemias.
7)
Avalie a dimensão das áreas plantadas de soja, em 2006,
nas regiões Centro-Oeste e Sul. Apresente o caminho
histórico da territorialização da produção de soja no
Brasil e indique sua atual direção.
Resolução
A observação do mapa permite perceber que a Região
Centro-Oeste apresentava em 2006 a maior concentração territorial do cultivo da soja, ao mesmo tempo
em que se notava uma pequena diminuição no ímpeto
do cultivo desse produto na Região Sul. O Centro-Oeste
apresentava também os maiores totais na
produção desse cultivo. A soja começou a ser cultivada
no Brasil na Região Sul e, a partir da década de 1970,
iniciou uma expansão em direção às regiões centrais
do País, à medida que a planta era adaptada aos
climas tropicais. Atualmente a soja avança em direção
à chamada “fronteira agrícola”, território que
bordeja a porção sul da Floresta Amazônica, incluindo
a porção norte da Região Centro-Oeste e parte do sul
da Região Norte, gerando sérios problemas
ambientais, como desmatamento e queimadas. Outro
parte da produção segue em direção ao Nordeste
brasileiro, abrangendo o oeste da Bahia e a fronteira
do Piauí com o Maranhão.
8)
A partir da análise da tabela, identifique a principal região
de repulsão e a principal região de atração populacional
do território brasileiro, explicitando, para cada uma delas,
um fator socioeconômico que contribuiu para essa
condição.
Resolução
Entre 2005 e 2010, o Sudeste foi a região administrativa que mais recebeu imigrantes. Podem ser
relacionados como fatores atrativos desse fluxo
migratório: a economia mais dinâmica associada à
maior possibilidade de emprego, o maior nível de
renda e a mais desenvolvida infraestrutura do País.
Neste período, a Região Nordeste foi a que perdeu o
maior número de indivíduos. A emigração de
nordestinos deve-se sobretudo à fragilidade da
economia regional, principalmente nas áreas
sertanejas, à concentração fundiária – que limita o
acesso de inúmeras famílias à terra –, tudo isso
agravado por problemas de ordem natural ou
antropicamente induzidos, como secas e perda da
qualidade dos solos devido à inadequação de cultivos.
9)
Texto 1
Se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo
tempo que é impossível ela ser gozada por ambos, eles
tornam-se inimigos. E no caminho para seu fim (que é
principalmente sua própria conservação, e às vezes
apenas seu deleite) esforçam-se por se destruir ou
subjugar um ao outro. E disto se segue que, quando um
invasor nada mais tem a recear do que o poder de um
único outro homem, se alguém planta, semeia, constrói
ou possui um lugar conveniente, é provável de esperar
que outros venham preparados com forças conjugadas,
para desapossá-lo e privá-lo, não apenas do fruto de seu
trabalho, mas também de sua vida e de sua liberdade. Por
sua vez, o invasor ficará no mesmo perigo em relação aos
outros.
(Thomas Hobbes. Leviatã [publicado originalmente em 1651], 1999.
Adaptado.)
Texto 2
Anarquismo é a doutrina segundo a qual o indivíduo é
a única realidade, que deve ser absolutamente livre e que
qualquer restrição que lhe seja imposta é ilegítima.
Costuma-se atribuir a Proudhon (1809-1865) o nasci -
mento do Anarquismo. Sua principal preocupação foi
mostrar que a justiça não pode ser imposta ao indivíduo,
mas é uma faculdade do eu individual que, sem sair do
seu foro interior, sente a dignidade da pessoa do próximo
como a sua própria e, portanto, adapta-se à realidade
coletiva mesmo conservando a sua individualidade.
(Nicola Abbagnano. Dicionário de Filosofia, 2000. Adaptado.)
Qual foi a solução proposta por Hobbes para a resolução
do problema exposto no texto 1? Explique a principal
diferença entre Hobbes e a doutrina anarquista de
Proudhon quanto à organização política.
Resolução
Hobbes entendia que, para aplacar as más inclinações
do homem, seria necessário estabelecer o Estado, e um
Estado forte e absolutista. Em Hobbes, identificamos
uma antropologia pessimista, pois os homens, no seu
entendimento, estão sempre em competição pela
honra e pela dignidade, o que produz o conflito e a
guerra. Hobbes era um filósofo contratualista, ou seja,
entendia que a sociedade seria uma construção
artificial, e o Estado um bem comum a ser venerado.
Proudhon sustentava uma antropologia mais otimista,
pois, segundo o próprio texto, o homem traz em si a
noção de dignidade e a capacidade de se colocar no
lugar do outro. Assim, enquanto para Hobbes, o Esta -
do seria o bem capaz de solucionar os problemas humanos, Proudhon propagou a ideia de uma sociedade
sem Estado, defendia a auto-organização dos trabalhadores e que essas organizações teriam legitimidade para possuir, elas próprias, os meios de
produção. Assim, foi o primeiro autor a se autoproclamar anarquista, idealizando uma sociedade sem
Estado.
10)Suponhamos, pois, que a mente é um papel em branco,
desprovida de todos os caracteres, sem nenhuma ideia;
como ela será suprida? De onde lhe provém este vasto
estoque, que a ativa e ilimitada fantasia do homem pintou
nela com uma variedade quase infinita? De onde apreende
todos os materiais da razão e do conhecimento? A isso
respondo, numa palavra: da experiência. Todo o nosso
conhecimento está nela fundado, e dela deriva
fundamentalmente o próprio conhecimento.
(John Locke. Ensaio acerca do entendimento humano [publicado
originalmente em 1690], 1999. Adaptado.)
Qual é a interpretação de Locke sobre as ideias inatas?
Explique quais foram as implicações do pensamento
desse filósofo no que se refere à metafísica.
Resolução
Em matéria de epistemologia, John Locke era um
representante da concepção empirista, ou seja, filosofia
que faz oposição ao inatismo ou racionalismo, e
segundo a qual o conhecimento é adquirido
unicamente pela experiência e pela percepção, valorizando, assim, o papel dos sentidos. Sendo assim, a
mente humana seria uma tábula rasa ou uma folha de
papel em branco, pois nasceria sem noção racional
alguma acerca do mundo e da realidade. O empirismo
critica a metafísica e conceitos como os de causa e
substância. Ou seja, todo o processo do conhecer, do
saber e do agir é aprendido pela experiência, por
tentativa e erro. Metafísica é a área da filosofia que
elabora um saber que busca descrever os fundamentos,
as condições, as leis, a estrutura básica, as causas ou os
princípios, bem como o sentido e a finalidade da
realidade como um todo ou dos seres em geral.
11) A discussão sobre a relação arte-sociedade levou a duas
atitudes filosóficas opostas: a que afirma que a arte só é
arte se for pura, isto é, se não estiver preocupada com as
circunstâncias históricas, sociais, econômicas e políticas.
Trata-se da defesa da “arte pela arte”. A outra afirma que
o valor da obra de arte decorre de seu compromisso
crítico diante das circunstâncias presentes. Trata-se da
“arte engajada”, na qual o artista toma posição diante de
sua sociedade, lutando para transformá-la e melhorá-la, e
para conscientizar as pessoas sobre as injustiças e as
opressões do presente.
(Marilena Chauí. Convite à Filosofia, 1994.)
Considerando o conceito de indústria cultural formulado
pelos filósofos Adorno e Horkheimer, explique as
modificações ocorridas na relação entre arte e sociedade
quando comparadas com a concepção purista da “arte
pela arte” e com a concepção “engajada”.
Resolução
A Escola de Frankfurt construiu o conceito de
indústria cultural para entender o papel da produção
artística na sociedade capitalista, em que ela se
encontra subordinada aos interesses de mercado e aos
interesses da classe dominante. Portanto, a noção da
“arte pela arte” pode subordinar a arte ao papel de
reprodutor da sociedade desigual, enquanto a chamada “arte engajada” seria aquela comprometida
politicamente com a transformação da sociedade,
numa preocupação de denunciar traços conservadores
da cultura, protestando, por meio do exercício estético,
contra as injustiças, e o artista seria um agente político
ativo.
12)
Texto 1
Diversamente do idealismo, o positivismo reivindica
o primado da ciência: nós conhecemos somente aquilo
que as ciências nos dão a conhecer, pois o único método
de conhecimento é o das ciências naturais. O positivismo
não apenas afirma a unidade do método científico e o
primado desse método como instrumento de conheci -
mento, mas também exalta a ciência como o único meio
em condições de resolver, ao longo do tempo, todos os
problemas humanos e sociais que até então haviam
atormentado a humanidade.
(Giovanni Reale e Dario Antiseri. História da Filosofia, vol. 3,
1999. Adaptado.)
Texto 2
Basta, portanto, que os homens sejam considerados
coisas para que se tornem manipuláveis, submetidos à
ditadura racionalizada moderna que encontra seu apogeu
no campo de concentração. Assim, a nova crise da razão
é interna e traz subitamente à luz, no cerne da racio -
nalização, a presença destrutiva da desrazão. Já não é
apenas a suficiência e a insuficiência da razão que estão
em causa, é a irracionalidade do racionalismo e da
racionalização. Essa irracionalidade pode devorar a razão
sem que ela se dê conta.
(Edgar Morin. Ciência com consciência, 1996. Adaptado.)
Considerando a análise realizada por Edgar Morin sobre
as tendências irracionais da razão, explique sua importância para uma crítica ao otimismo positivista diante da
ciência.
Resolução
Morin identifica no mundo moderno uma forma de se
produzir conhecimento errado, pois é marcado pela
disjunção entre os saberes e, assim, produz-se conheci -
mento e ignorância simultaneamente. A ciência está
separada da filosofia; a especialização, da reflexão; a
razão, da emoção ou do imaginário; cultura científica,
da humanista; as ciências naturais, das humanas; a
prosa, da poesia; e a arte foi relegada a um plano de
mera função de entretenimento. O pensamento com -
plexo na concepção moriniana propõe uma religação
dos saberes, sem negar a especificidade de cada área,
pretendendo construir um conhecimento transdisciplinar.
Morin também se preocupa com a dimensão ética do
conhecimento e escreveu, entre outros tantos, o livro
Ciência com consciência. A ciência, na concepção
positivista, era proclamada a organizadora da ordem
e promotora do progresso, contudo, ela esteve
subjugada aos interesses econômicos do capitalismo e
do socialismo, promovendo violentos impactos
ambientais, contribuindo na produção das desigualdades, consequentemente, na produção da exclusão social, e além disso, a ciência hoje se depara com
problemas na área da bioética, com as experiências e
as questões biomédicas relacionadas com o problema
do aborto, da clonagem, dos transgênicos e da
eutanásia, necessitando, portanto, dialogar com as
demais formas de saber, como a filosofia, por exemplo.