19/07/2016

Unesp 2016 - 2a fase - 13 de dezembro de 2015

Prova de conhecimentos específicos e redação - Ciências Humanas, 2a fase da Unesp 2016, no dia 13 de dezembro de 2015. 

A prova pode ser visualizada aqui 

A prova da primeira fase da Unesp 2016 já foi publicada aqui neste blog (veja)

Questão


1) É necessário a um príncipe, para se manter, que aprenda a poder ser mau e que se valha ou deixe de valer--se disso segundo a necessidade. Deixando de parte, pois, as coisas ignoradas relativamente aos príncipes e falando a respeito das que são reais, digo que todos os homens, máxime os príncipes, por estarem mais no alto, se fazem notar através das qualidades que lhes acarretam reprovação ou louvor. Isto é, alguns são tidos como liberais, outros como miseráveis; alguns são tidos como pródigos, outros como rapaces; alguns são cruéis e outros piedosos; perjuros ou leais; efeminados e pusilânimes ou truculentos e animosos; humanitários ou soberbos; lascivos ou castos; estúpidos ou astutos; enérgicos ou indecisos; graves ou levianos; religiosos ou incrédulos, e assim por diante. E eu sei que cada qual reconhecerá que seria muito de louvar que um príncipe possuísse, entre todas as qualidades referidas, as que são tidas como boas; mas a condição humana é tal, que não consente a posse completa de todas elas, nem ao menos a sua prática consistente; é necessário que o príncipe seja tão prudente que saiba evitar os defeitos que lhe arrebatariam o governo e praticar as qualidades próprias para lhe assegurar a posse deste, se lhe é possível; mas, não podendo, com menor preocupação, pode-se deixar que as coisas sigam seu curso natural.(Maquiavel. O Príncipe, 1983. Adaptado.)

Identifique, exemplificando com passagens do texto, a concepção de Maquiavel acerca da maneira como o governante deve se comportar. Indique dois elementos, presentes ou não no texto, que permitam associar o pensamento de Maquiavel à visão de mundo dos humanistas

1) O príncipe deve ser amoral (“É necessário a um príncipe, para se manter, que aprenda a poder ser mau e que se valha ou deixe de valer-se disso segundo a necessidade”); 2) O príncipe deve saber agir de acordo com as circunstâncias para preservar o poder do Estado (“É necessário que o príncipe seja tão prudente que saiba evitar os defeitos que lhe arrebatariam o governo e praticar as qualidades próprias para lhe assegurar a posse deste”). O pensamento de Maquiavel pode ser associado à visão de mundo dos humanistas (entendidos como admiradores das qualidades e potencialidades do ser humano) sob dois aspectos: Maquiavel, assim como os humanistas, recorre ao racionalismo para justificar seu pensamento; além disso, ao valorizar a pessoa do príncipe na condução dos assuntos de governo (no lugar do pensamento predominantemente teocentrista medieval), Maquiavel se associa aos humanistas na ênfase dada à ação do ser humano. 

2) A vinda da Corte com o enraizamento do Estado português no Centro-Sul daria início à transformação da colônia em metrópole interiorizada.(Maria Odila Leite da Silva Dias. A interiorização da metrópole e outros estudos, 2005.)
Cite e analise duas medidas determinadas pelo Príncipe Regente D. João, nos anos em que ficou no Brasil, que tenham contribuído para essa interiorização da metrópole e seu gradual enraizamento na colônia.

Abertura dos portos brasileiros às nações amigas, rompendo o exclusivo metropolitano português, abrindo a economia do País ao circuito comercial internacional; elevação do Brasil à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves, pondo fim à subordinação colonial do primeiro ao Reino Português; instalação, no Rio de Janeiro, de tribunais superiores até então sediados em Lisboa; criação da Casa da Moeda e do Banco do Brasil, dinamizando a vida financeira; e diversas medidas de caráter cultural como a Imprensa Régia, a Biblioteca Real, o Jardim Botânico, escolas de medicina, academias militares e a contratação de uma missão artística francesa – responsáveis por um certo progresso intelectual, mar - cado pelo afrancesamento e consequente europeização das elites brasileiras. 

3) Desde 1964, o novo regime exerceu forte pressão sobre cultura identificada com propostas de transformação social, objetivando impedir a continuidade de uma experiência que ganhava corpo. Apesar do quadro adverso, a cultura de oposição não perdeu vigor, buscando novas estratégias e assumindo variados estilos, conforme o momento da ditadura e a feição própria dos debates entre os próprios cineastas que, solidários no impulso de resistência, tinham posições distintas no modo de conceber suas obras e encaminhar suas escolhas temáticas e opções estéticas.
(Ismail Xavier. “O momento do golpe, as primeiras reações e o percurso do cinema de oposição no período da ditadura”. In: Angela Alonso e Miriam Dolhnikoff (orgs.). 1964: do golpe à democracia, 2015.)
Dê um exemplo e uma característica da produção cinematográfica brasileira mencionada no texto. Considerando outras manifestações culturais “de oposição” que tiveram grande impacto no mesmo período, indique uma ocorrida no campo da música e uma ocorrida no campo do teatro.

Resolução Característica: continuidade do “Cinema Novo” que procurava conscientizar os brasileiros acerca da problemática social e econômica do País. Exemplo: Terra em Transe, de Glauber Rocha. Outras manifes - tações culturais de impacto no período: canções de protesto, como Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré; no teatro, atuação do Teatro de Arena, em São Paulo, com Arena conta Zumbi e Arena conta Tiradentes, e do Grupo Opinião, no Rio de Janeiro, com Liberdade, Liberdade. 

4) O texto e a foto mostram faces da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, durante a década de 1960.É preciso que toda a raça negra se transforme num exército negro. Só assim poderemos marchar sobre este país, sobre este poder racista e dizer a este governo safado: “Mãos ao alto, bando de safados, isto é um assalto! Viemos retomar aquilo que nos pertence!”(Bobby Seale apud Dany Cohn-Bendit. Nós que amávamos tanto a revolução, 1987.)

Bobby Seale, autor da frase acima, foi um dos líderes dos Panteras Negras. Os atletas John Carlos e Tommie Smith (na foto, com os braços levantados) tornaram-se famosos por seu protesto durante a cerimônia de premiação da prova de 200 metros da Olimpíada de 1968.Caracterize a condição dos negros norte-americanos na década de 1960 e cite duas estratégias de luta do movimento negro nos Estados Unidos, no mesmo período

Resolução Condição dos negros norte-americanos na década de 1960: nos Estados Unidos considerados como um todo, preconceito e discriminação generalizados com ênfase na atuação policial contra afroamericanos; nos estados sulistas, segregacionismo institucionalizado, com restrições aos direitos civis dos negros. Estratégias de luta propostas: ação armada, preconizada pelos Panteras Negras e pelos Muçulmanos Negros; e mobi - lização pacifista, liderada por Martin Luther King.

05) 


O que o gráfico permite analisar? Considerando as informações do gráfico, indique os intervalos percentuais aproximados das legendas do mapa para os tipos I e V

Resolução O gráfico permite analisar a relação das porcentagens entre MATA/FLORESTA, LAVOURA e PASTAGEM das unidades federativas brasileiras no ano de 2006 no qual ficam estabelecidos 6 tipos de classificação desta distribuição. Os intervalos percentuais aproximados do Tipo I (que inclui os estados de Acre e Amapá) são: 62% a 68% de MATA/FLORESTA, 5% de LAVOURA e 28% a 35% de PASTAGEM. Os intervalos do TIPO V (Rio de Janeiro) são: 15% de MATA/FLORESTA, 22% de LAVOURA e 63% de PASTAGENS.

06) A charge retrata um movimento ocorrido em 2014 na cidade de Hong Kong

Identifique este movimento e sua motivação. Como o lema “Um país, dois sistemas” relaciona-se à situação de Hong Kong perante a China?

Resolução Grupos de habitantes de Hong Kong, sob a bandeira “Occupy Hong Kong”, protestaram contra o governo chinês que tencionava impor seu sistema de governo à cidade, contrariando os acordos assinados em 1997, quando da devolução da cidade pelo Reino Unido (estava “alugada” desde 1897), que permitiam o livre escrutínio da população local. Esta autonomia estava prevista dentro da política que funcionava sob o lema “Um país, dois sistemas”, no qual o governo chinês preconizava para o país (a parte continental, toda sob o controle do Partido Comunista Chinês) o sistema socialista de produção e permitia certa independência administrativa e econômica para Hong Kong, que, durante cinquenta anos, a partir de 1997, manteria o sistema capitalista de produção.

7) O entendimento dos processos sociais envolvidos nos fluxos de pessoas entre países, regiões e continentes passa pelo reconhecimento de que sob a rubrica migração internacional estão envolvidos fenômenos distintos, com grupos sociais e implicações diversas. A migração internacional, no contexto da globalização, é inevitável e deve ser entendida como parte das estratégias de sobrevivência, de impulso para alcançar novos horizontes, e a globalização, nesse contexto, age como fator de estímulo.
(Neide L. Patarra. “Migrações internacionais: teorias, políticas e movimentos sociais”. Estudos Avançados, 2006. Adaptado.)

Explique por que a globalização é um estímulo à migração internacional. Cite dois aspectos ou “fenômenos distintos” motivadores das migrações.

Resolução Vários aspectos inerentes à globalização estimulam os movimentos migratórios. A globalização incrementou, por exemplo, a melhoria dos meios de transporte, comunicações e informação, facilitando o deslocamento entre as diversas regiões. A globalização intensificou o diferencial econômico entre nações ricas e pobres (por meio da concentração de renda em favor dos ricos). Considera-se também que a globalização teve início com o término da Guerra Fria, o que levou ao fim de muitas barreiras que impediam a circulação entre os países capitalistas e os antigos países socialistas. Assim, chega-se aos aspectos motivadores das migrações, como, por exemplo, (I) a pobreza extrema de algumas regiões do mundo, com baixas perspectivas de oportunidades, as quais levam trabalhadores a buscar outros locais onde possam exercer atividades e (II) conflitos étnicos e religiosos, inviabilizando a vivência nas regiões conflituosas, elementos que englobam a busca pela melhoria da qualidade de vida. Grupos também podem deslocar-se (III) em função de trabalho técnico-científico, a chamada “migração de cérebros”, que leva cientistas para trabalhar em universidades de países emergentes, ou a possibilidade de pesquisa científica em nações mais desenvolvidas, realizada por cientistas de países pobres. 



08) Relações entre as aglomerações na rede urbana

Os esquemas apresentam redes urbanas com diferentes hierarquias. Explique a diferença entre rede urbana e hierarquia urbana e como se dão as relações entre as aglomerações urbanas nos esquemas apresentados.

Resolução Rede urbana é um conjunto articulado de cidades e seus centros urbanos, com relação de dependência entre os diferentes tamanhos das localidades, as quais estão conectadas no dia a dia da sua população por um fluxo de serviços, informações, mercadorias e capital. Essa rede estrutura-se por meio de uma hierarquia urbana, em que as cidades menores costumam ser relativamente dependentes e subordinadas às cidades maiores e economicamente mais desenvolvidas, influência essa conhecida como grau de polarização. No esquema clássico, observa-se uma relação vertical, na qual a hierarquia é rigidamente respeitada, a metrópole nacional exerce numa hierarquia fechada seu poder de influência até a menor localidade, que é a vila. No esquema atual, há uma inter-relação complexa na qual a metrópole nacional se relaciona, ao mesmo tempo e nos mais variados graus, com toda a estrutura hierárquica, sendo que os elementos intermediários da hierarquia também mantêm um relacionamento entre si.

09) Não é preciso uma grande arte, uma eloquência muito rebuscada, para provar que os cristãos devem tolerar--se uns aos outros. Vou mais longe: afirmo que é preciso considerar todos os homens como nossos irmãos. O quê! O turco, meu irmão? O chinês? O judeu? O siamês? Sim, certamente; porventura não somos todos filhos do mesmo Pai e criaturas do mesmo Deus? Penso que poderia surpreender a obstinação de alguns líderes religiosos se lhes falasse: “Escutem-me, pois o Deus de todos esses mundos me falou: há novecentos milhões de pequenas formigas como nós sobre a terra, mas apenas o meu formigueiro é bem-visto por Deus; todos os outros lhe causam horror desde a eternidade; meu formigueiro será o único afortunado, e todos os outros serão desafortunados”. Eles me agarrariam então e me perguntariam quem foi o louco que disse essa besteira. Eu seria obrigado a responder-lhes: “Foram vocês mesmos”. Procuraria em seguida acalmá-los, mas seria bem difícil. (Voltaire. Tratado sobre a tolerância [originalmente publicado em 1763], 2015. Adaptado.)
Qual foi o nome atribuído ao mais importante movimento filosófico francês do século XVIII? Explique a importância do texto de Voltaire para o desenvolvimento desse movimento filosófico e para a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Assembleia da ONU em 1948.

Resolução Foi o Iluminismo, movimento que valorizou a razão, a liberdade civil, o direito natural, a igualdade e a tole - rância. Voltaire foi um defensor das liberdades civis (de expressão, religiosa e de associação) e escreveu cerca de setenta obras, entre elas, Tratado sobre a To - le rância, em que defende a tolerância religiosa. De - fendeu a ideia de que o monarca deveria passar pelos processos legais antes de punir um súdito, com ba ten - do, assim, o Antigo Regime e o absolutismo. Suas ideias inspiraram a Revolução Francesa e a De cla ra - ção Universal dos Direitos Humanos da ONU, em que se propõe que toda ação humana seja movida pelo es - pí rito da fraternidade. Sua influência ainda se verifica na Declaração de Princípios sobre a Tolerância, da UNESCO (1995), para a qual tolerância não é si nô - nimo de indulgência, mas de respeito. 

10­­­) Texto 1
Sócrates - Ao atingir os cinquenta anos, os que tiverem se distinguido em tudo e de toda maneira, no seu agir e nas ciências, deverão ser levados até o limite e forçados a elevar a parte luminosa da sua alma ao Ser que ilumina todas as coisas. Então, quando tiverem vislumbrado o bem em si mesmo, usá-lo-ão como um modelo para organizar a cidade, os particulares e a sua própria pessoa, pelo resto da sua vida. Passarão a maior parte do seu tempo estudando a filosofia e, quando chegar sua vez, suportarão trabalhar nas tarefas de administração e governo, por amor à cidade, pois que verão nisso um dever indispensável. Assim, depois de terem formado sem cessar homens que lhes sejam semelhantes, para lhes deixar a guarda da cidade, irão habitar as ilhas dos bem-aventurados. Glauco – São mesmo belíssimos, Sócrates, os governantes que modelaste como um escultor!(Platão. A República, 2000. Adaptado.)

TexTo 2
Origina-se aí a questão a ser discutida: se é preferível ao príncipe ser amado ou temido. Responder-se-á que se preferiria uma e outra coisa; porém, como é difícil unir, a um só tempo, as qualidades que promovem aqueles resultados, é muito mais seguro ser temido do que amado, quando se veja obrigado a falhar numa das duas. Os homens costumam ser ingratos, volúveis, covardes e ambiciosos de dinheiro; enquanto lhes proporcionas benefícios, todos estão contigo. Todavia, quando a necessidade se aproxima, voltam-se para outra parte. Os homens relutam menos em ofender aos que se fazem amar do que aos que se fazem temer, pois o amor se mantém por um vínculo de obrigação, o qual, mercê da perfídia humana, rompe-se sempre que for conveniente, enquanto o medo que se incute é alimentado pelo temor do castigo, sentimento que nunca se abandona. (Maquiavel. O Príncipe, 2000. Adaptado.) 

Considerando os conceitos filosóficos de “idealismo”, “metafísica” e “ética”, explique as diferenças entre as concepções de política formuladas por Platão e por Maquiavel.

Resolução Platão é considerado o fundador do idealismo, pensamento em que se acredita existir um mundo ideal, de onde provém a inteligência humana, em oposição ao mundo das manifestações. O filósofo é aquele que regressa, pela reflexão autêntica, a esse mundo original e metafísico, tornando-se hábil a exercer o poder político. Platão expôs em A República a sua concepção de governo numa sociedade idealizada, em que Esparta foi tomada por modelo. A sociedade seria como um corpo, em que as pernas sustentam e seriam os trabalhadores; os braços defendem e representam os guerreiros, enquanto a cabeça governa, e esta é a representação dos filósofos que tiveram contato com o mundo ideal. Maquiavel foi um pensador que teorizou a política, colocando-a sob a perspectiva da astúcia e do pragmatismo. Nesse sentido, a ação política teria sobretudo a preocupação de manter o poder centralizado, em que os fins justificam os meios, deixando de lado preocupações de ordem moral e religiosa. Maquiavel insere a política numa esfera puramente humana, defendendo a consolidação do Estado laico.


11) TexTo 1– Pode-se deduzir, da influência dos órgãos, uma relação entre o desenvolvimento dos órgãos cerebrais e o desenvolvimento das capacidades morais e intelectuais?– Não confundais o efeito com a causa. O Espírito tem sempre as capacidades que lhe são próprias; ora, não são os órgãos que produzem as capacidades, mas as capacidades que conduzem ao desenvolvimento dos órgãos. O Espírito, se encarnando, traz certas predisposições, admitindo-se, para cada uma, um órgão correspondente no cérebro, o desenvolvimento desses órgãos será um efeito e não uma causa. Se as capacidades se originassem nesses órgãos, o homem seria uma máquina sem livre-arbítrio e sem responsabilidade dos seus atos. Seria preciso admitir que os maiores gênios, sábios, poetas, artistas, não são gênios senão porque o acaso lhes deu órgãos especiais.(Allan Kardec. O livro dos espíritos [texto originalmente publicado em 1848], 2011. Adaptado.)

TexTo 2 - Lobo temporal é o nome da região do córtex cerebral onde são processados os sinais sonoros. “Deduzo que a habilidade de produzir música também deve estar lá”, afirma o neurologista alemão Helmut Steinmetz, um dos pesquisadores da Universidade Henrich Heine, de Düsseldorf, Alemanha, responsáveis pela descoberta de que os músicos têm o lobo temporal esquerdo maior que o dos outros indivíduos. Steinmetz e seu parceiro Gottfried Schlaug compararam, em exames de ressonância magnética, o cérebro de trinta músicos com os de outros trinta indivíduos. Em todos, o lobo temporal esquerdo é um pouco maior que o direito, mas essa diferença chega a ser duas vezes maior entre os músicos.(Nelson Jobim. “Um dom de gênio”. Superinteressante, maio de 2000.)


Considerando o conceito filosófico de “inatismo”, explique as diferenças entre os dois textos, no que se refere à origem das capacidades mentais

Resolução 
No texto de Kardec, codificador do Espiritismo, religião amplamente professada no Brasil, o Universo é visto como constituído por matéria e espírito. Essa concepção tem ressonância no pensamento de Platão e Descartes, considerados também pensadores dualistas. Assim, o corpo material (e suas habilidades) é plasmado pelo espírito que o encarna. A alma, entendida por Kardec como o espírito encarnado, é o por ta dor de uma bagagem cultural e moral de existências passadas, conceito semelhante ao inatismo cartesiano e platônico, em que a razão humana é portadora e produtora do conhecimento. O texto de Nelson Jobim toma a genialidade humana como produto de determinação biológica, pois a estrutura do cérebro humano aparecera, em pesquisas, diferente em diversos indivíduos, com e sem habilidades musicais. Tal concepção se aproximaria mais dos empiristas, para os quais toda inteligência nasce como tábula rasa. Nesse caso, poderíamos admitir que a genialidade resultaria do acaso, em que, na crítica de Kardec, “os maiores gênios, sábios, poetas e artistas não são gênios senão porque o acaso lhes deu órgãos especiais”. 


12) O pensamento mítico consiste em uma forma pela qual um povo explica aspectos essenciais da realidade em que vive: a origem do mundo, o funcionamento da natureza e as origens desse povo, bem como seus valores básicos. As lendas e narrativas míticas não são produto de um autor ou autores, mas parte da tradição cultural e folclórica de um povo. Sua origem cronológica é indeterminada e sua forma de transmissão é basicamente oral. O mito é, portanto, essencialmente fruto de uma tradição cultural e não da elaboração de um determinado indivíduo. O mito não se justifica, não se fundamenta, portanto, nem se presta ao questionamento, à crítica ou à correção. Um dos elementos centrais do pensamento mítico e de sua forma de explicar a realidade é o apelo ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado, à magia. As causas dos fenômenos naturais são explicadas por uma realidade exterior ao mundo humano e natural, superior, misteriosa, divina, a qual só os sacerdotes, os magos, os iniciados, são capazes de interpretar, ainda que apenas parcialmente. (Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2001. Adaptado.)

A partir do texto, explique como o pensamento filosófico característico da Grécia clássica diferenciou-se do pensamento mítico

Resolução A filosofia grega nasceu, em grande parte, da insatisfação de alguns pensadores em relação às explicações mitológicas acerca da origem do mundo, da matéria, dos fenômenos diversos e da moralidade humana. Enquanto os mitos possuíam uma origem tradicional, irrefletida e uma abordagem transmitida de geração a geração, a filosofia propunha a elaboração de um conhecimento a partir de especulações racionais e coerentes, deixando de lado pressupostos míticos e prontos. Os fenômenos da natureza e os problemas da humanidade passaram a ser questionados dentro de parâmetros racionais e de observação mais empírica do mundo.