10/06/2016

A formação do povo brasileiro: indígenas e afrodescendentes

 Prof. Leandro Nieves Ribeiro

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1. O direito dos indígenas

Os indígenas têm seus direitos assegurado na Constituição de 1988, como seu direito a diferença, ao respeito, à sua organização social a seus costumes, à sua língua nativa, ás suas crenças e tradições, a seus processos próprios de aprendizagem e educação escolar indígena.

O direito mais importante é o direito a terras indígenas que permite preservar seus costumes e tradições criando a reserva indígena através da demarcação de terras.


1.1 As terras indígenas

Por causa da demarcação de terras indígenas, a população indígena “aumentou”, chegando a 896.917 indivíduos (57,7 % vivem nas terras indígenas e 63,8% vivem em áreas rurais). O “aumento” não deve ser relacionado com o aumento populacional indígena. 

Na realidade, o que ocasionou este “aumento” é que os descendentes indígenas agora estão se identificando com sua origem e se identificando nos censos brasileiros. Portanto, não há um aumento em si, mas um reconhecimento ou identidade de sua história.

A concentração dos indígenas é principalmente na Amazônia e ainda tem outros núcleos na região Sul, Centro-Oeste e Nordeste.

A área com vazio populacional indígena é na região central com MG, GO, PI, BA e RJ. Ainda sobre a demarcação da terra indígena o processo de reconhecimento das terras indígenas é bastante lento e burocrático (leia a página 16). Além disso, outro detalhe é os conflitos em terras indígenas como disputa por terras contra os latifundiários e a disputa econômica com garimpeiros e madeireiros.

Índio quer terra
 “A realidade dos índios da região Norte é bastante distinta daqueles que estão no Nordeste, Sudeste e Sul, a começar pelo contato com as populações que estão em volta. Na Amazônia, os índios ainda brigam por largas extensões de terra e tendem a viver dentro de seus moldes tradicionais. Nas outras regiões, os índios vivem em terras pequenas, estranguladas no meio de grandes cidades. No Mato Grosso do Sul, por exemplo, onde vivem os guaranis, existem áreas minúsculas com quatro ou cinco aldeias superpovoadas. Não há espaço suficiente para todos nem condições para plantio, por serem áreas degradadas por fazendeiros. Os índios são forçados a buscar recursos em cidades, o que muitas vezes os coloca em situação de marginais, expostos à prostituição, ao alcoolismo e às drogas”. Texto retirado de Índio quer terra


Blairo Maggi, novo ministro da Agricultura
Blairo Maggi, novo ministro da agricultura, apelidado de “rei da soja”, declara que “não é justo acomodar um índio para desacomodar uma família”.
Fonte: Issoé


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2. Os afrodescendentes

Os primeiros negros chegaram no Brasil a partir de 1530 como mão de obra escrava para os engenhos de açúcar. Os negros vinham da África e viajavam nos navios negreiros em condições desumanas, como por exemplo, viajavam nos espaços apertados dos porões e sem condições de locomover e etc.

Lembre-se que o escravo era tratado simplesmente como uma mercadoria que unicamente gerava o lucro para os seus donos.

No Brasil o número de escravos que viajaram são de aproximadamente 5,5 milhões. Destes, é estipulado que 4,8 milhões de escravos chegaram com vida.

 Imagens:

Figura 1 – Maquete representando o interior de um navio negreiro. Fonte: Wikipedia

Figura 2 – Réplica de um navio negreiro. Fonte: Eduardodocl


2.1 Quilombo

No Brasil, durante a luta pela escravidão surge algumas resistências locais através dos quilombos, que era o lugar onde os escravos fugiam e ali se estabeleciam conservando sua cultura (língua nativa, religião, capoeira).

O quilombo mais famoso foi o Palmares, localizado na fronteira entre Alagoas e Sergipe e teve como líder Zumbi dos Palmares. Outro quilombo famoso é o Kalunga, localizado em Goiás.

Atualmente estes quilombos e sua população, os remanescentes de quilombolas, resistiram no tempo e sobrevivem até hoje. Semelhante ao caso dos indígenas, os remanescentes de quilombolas sofrem conflitos pela regularização de suas terras.


2.2 A luta pelo fim da escravidão

Em 1845 foi estabelecida a Lei Bill Aberdeen, por meio da qual os ingleses proibiram o fluxo dos navios negreiros para o continente americano. Contudo esta medida não impediu que os escravos chegassem ao Brasil e menos que a intensidade de escravos fosse diminuída.

No Brasil a luta pela liberdade dos escravos foi longa e conteve ao todo 4 leis em torno desta questão.

A primeira foi de 1850, conhecida como Lei de Eusébio de Queiróz, pelo qual extinguiu o tráfico negreiro, proibindo, somente o comércio dos escravos. Ou seja, não viria mais escravos para o Brasil. Contudo, a escravidão no Brasil ainda era permitida.

A segunda é de 1871, conhecida como Lei do Ventre-Livre, que livrava da escravidão os filhos de escravas que nascessem a partir da validação da Lei. Em contrapartida, os filhos das escravas permaneciam sob custodia e cuidados de seus donos até completar 21 anos de idade.

A terceira é de 1885, que aprova a Lei “dos Sexagenários” que libertava os negros com mais de 65 anos da escravidão. Porém, dificilmente um escravo, devido suas rotinas e falta de saúde, chegasse a essa idade para se tornar livre.

E por fim, a quarta lei, que foi assinada em 1888 e chamada de Lei Áurea, que aboliu completamente a escravidão no Brasil. Dessa forma, não seria permitido mais o uso de escravos.

A luta pelo fim da escravidão no Brasil pode ser entendida por três motivos e oriunda da pressão internacional pela abolição da escravatura e por interesses próprios brasileiros.



2.2.1 O primeiro motivo: o interesse internacional pelo fim da escravidão no Brasil

O fim da escravidão no Brasil não veio de interesses próprios da população brasileira. Por sua vez, o fim da escravidão no Brasil deve ser entendido como uma pressão política internacional, liderada pelos ingleses.

A justificativa da pressão inglesa para o fim da escravidão deve-se principalmente pelo início da Revolução Industrial na Europa, que substituiu o trabalho escravo pelo trabalho assalariado (ver página 27). Para entender o motivo que fortaleceu o fim da escravidão pela Inglaterra devemos entender o contexto socioeconômico da Europa.  

A Inglaterra, maior potência política e econômica no momento, estava sofrendo mudanças profundas na sua sociedade por causa da Revolução Industrial, que viria a substituir o trabalho manufaturado pelo trabalho industrial, aumentando drasticamente sua produção.

Diante da Revolução Industrial e do aumento da produção, a Inglaterra e (os demais países que viriam a participar da Revolução Industrial na Europa) necessitava de um mercado consumidor. Por exemplo, um escravo obviamente não recebe salário, portanto, não poderá comprar produtos. Já o assalariado, que receberá um salário em troca da sua força de trabalho, poderá consumir e incentivar o aumento da produção industrial. Sem o consumidor, o mercado não fluirá, ou seja, não funcionará e não dará condições de aumentar ou manter o mercado funcionando. Por conta desse contexto, ocorre a necessidade de substituir a mão de obra escrava pela mão de obra assalariada.

Os ingleses com a intenção de que o mercado fosse amplo, incentivou que outros países aderissem a abolição da escravatura. A Inglaterra, portanto, liderou um movimento internacional e pressionou que os demais países mudassem sua concepção econômica.

No caso do Brasil, que veio a ser independente de Portugal em 1822 teve problemas para que a nossa metrópole (Portugal) reconhecesse nossa independência. Nesse momento difícil, a Inglaterra teve um papel político fundamental para intermediar a situação e reconhecer a nossa independência, o que fortaleceu nossa luta e “convenceu” Portugal a nos reconhecer[1] . Dessa forma, o Brasil teve uma dívida moral e meio que “devêssemos um favor” para a Inglaterra, cuja dívida foi “paga moralmente” com a abolição da escravidão.  


[1] Nossa independência foi reconhecida por Portugal, nossa metrópole, em 1824, mediante o pagamento de uma indenização de 2 milhões de esterlina. Na época, a grana era altíssima e o Brasil teve que pegar emprestado este dinheiro para a Inglaterra, gerando uma dívida. 
Esta dívida provocou que o Brasil tivesse uma dependência da Inglaterra, tendo aí, a origem primária da nossa dívida externa. Outro fator do nosso acordo com Portugal, foi que teríamos que preservar o título de imperador do Brasil, com a figura de dom João VI, que era o rei de Portugal. Ou seja, tivemos de fato nossa independência política, não eramos mais uma colônia, mas não nos tornamos uma nação diferente e nem livre de Portugal, contudo a partir daí o Brasil iniciou sua melhoria em infraestrutura e formação do território brasileiro. 


2.2.2 O segundo motivo: o trabalho assalariado como alternativa a marginalização da população

O segundo motivo é por que em diversos países da Europa, sobretudo na Alemanha e na Itália, existia uma grande parcela populacional miserável (pobre) e marginalizada por conta de sua economia agrícola (e portanto, sem salário). Para essa parcela miserável, tornava-se impossível ter o acesso ao mercado e de participarem no consumo. Como alternativa a esta marginalização, o trabalho assalariado tornou-se a principal opção. Porém, nem todos optaram por ingressar nesse novo tipo de atividade. Outros viriam a emigrar (sair de um ponto) para o Brasil.

2.2.3 O terceiro motivo: os imigrantes como substituição brasileira da mão de obra escrava

No Brasil na época da abolição da escravidão em 1888, não tínhamos ainda nossas indústrias (viria apenas no século XX) porém estávamos interessados na produção do café. Por isso, uma resistência, formando por donos de escravos e fazendeiros, eram contra o fim da escravidão. Porém, quando a pressão internacional tornou-se inevitável, os fazendeiros questionavam: quem substituiria o escravo nas fazendas de café? Noutras palavras, com a proibição do trabalho escravo quem seria a mão de obra barata para trabalhar nas fazendas no Brasil? Naturalmente, não seria os fazendeiros.

Os imigrantes, marginalizados ou miseráveis na Europa, foram a solução encontrada para a substituição dos escravos e da falta de mão-de-obra barata. O governo brasileiro incentivou a vinda dos imigrantes dispondo navios para o transporte da Europa para o Brasil.

Engana-se quem pensa que os imigrantes não seriam explorados pelos fazendeiros ou que os ex-escravos (os alforriados) fossem incluídos na sociedade. Pelo contrário, este momento foi fundamental para o aumento da desigualdade social.

Os imigrantes que chegaram no Brasil não tinham condições financeiras de sustentar seus custos como comida e moradia. Daí é feita uma “troca de favores” entre os donos das fazendas e os imigrantes. Enquanto o dono da fazenda dava comida e moradia, o imigrante, “pagava” sua dívida com o fazendeiro a partir de seu trabalho na produção do café. Naturalmente, esta dívida dificilmente era finalizada, tendo, portanto, uma dependência do imigrante com o fazendeiro.


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Saiba tudo sobre a imigração no Brasil (movimentos migratórios)


2.3 A situação do afrodescendente após o fim da escravidão

O ex-escravos não tiveram qualquer inclusão do governo brasileiro nas atividades econômicas, sendo ainda explorados, ou ainda sem qualquer direito para garantir sua melhora de vida. Por exemplo, não receberam garantir de acesso à educação, nem de acesso a terra e sem condições financeiras. Os negros praticamente vagavam abandonados no vasto território brasileiro. O trecho abaixo foi retirado da página 27 e descreve sobre a liberdade do escravo com a abolição:

Essa liberdade, no entanto, não veio acompanhada de qualquer assistência aos novos libertos, nem por parte do Estado (que não estava nem um pouco interessado) nem por parte da Igreja ou de qualquer outra instituição –não havia escolas que os educassem, não havia suporte para saúde, moradia, trabalho ou qualquer tipo de preparo para a nova realidade que conheceriam. Assim, a situação de vida dessa população ficou ainda pior. Muitos foram aqueles que se tornaram mendigos, sem teto e que viviam de pequenos expedientes. Aqueles que tinham alguma habilidade como artesãos se mudaram para as cidades, mas sempre para fazer trabalhos de pouca importância para aquele momento econômico. Outros permaneceram nos lugares onde sempre viveram, como agregados ou parceiros – continuavam tratando a terra e a roça, sem receberem qualquer pagamento. Um grande contingente, no entanto, aceitava trabalhos temporários e se tornava itinerante: esses escravos ora trabalhavam como vaqueiros, ora trabalhavam como agricultores na época da colheita, porém preservavam o sonho de obter seu próprio pedaço de terra e construir sua própria família. Não foi por acaso, portanto, que durante todo o século XX tenham reivindicado suas terras, fosse exigindo a Reforma Agrária, fosse na luta pelo reconhecimento e posse das terras dos quilombos, como você viu.

Em resumo, o trecho acima permite perceber o quanto sem uma política inclusiva com a libertação dos escravos ficaram abandonados e marginalizados (miseráveis, pobres e excluídos da sociedade). Ao longo do tempo, este abandono provocou graves consequências, por exemplo, a maioria se tornaram mendigos, sem teto e entre outras atividades de péssimas condições financeiras.

No gráfico abaixo podemos a desigualdade racial quanto ao acesso a educação. No ano de 2001, frequentavam no ensino superior 10,2% dos negros ou pardos, enquanto, os brancos eram 39,6%. Em 2011, no ensino superior os negros ou pardos chegaram a 35,8, enquanto os brancos chegaram a 65,7%. Perceba que o aumento dos brancos foi muito maior do que dos negros ou pardos. Lembre-se que para conseguir um bom emprego é necessário ter no mínimo o ensino médio completo e ou ensino superior. Dessa forma, percebemos como a quantidade é ainda diferente entre os grupos.



Aqui podemos questionar o acesso à educação de qualidade. Quem tem condição financeira opta pela saúde particular, com planos de saúde e hospitais particulares. Quem não tem condição financeira, é obrigado a utilizar os serviços públicos de saúde. 

Naturalmente temos que lembrar que a maioria dos serviços públicos de saúde tem condição precária, sendo lotados e ineficientes para atender a população. Pelos gráficos podemos pensar que a maioria da população negra tem dificuldade de consultar um médico e que possivelmente seja por conta da precarização da saúde pública.

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3. Resolução dos exercícios da página 30

a) Você diria que a situação da população afrodescendente já é igual à da população branca? Justifique sua resposta a partir de comentários sobre os gráficos.
Resposta: Não. Há grande diferença entre a realidade de ambas quanto à renda, o que limita o acesso à educação e à saúde de qualidade

b) Comparando o Censo de 2000 ao de 2010, houve avanços em relação à qualidade de vida da população afrodescendente? Justifique
Resposta: Sim, houve o avanço de direitos para lugar pela igualdade devido a leis específicas que garantiram cota para trabalho e educação que permitiram a condição de melhoria de vida da população afrodescendente. Contudo muito ainda devemos fazer para melhorar a igualdade social.

c) A partir do que foi estudado, a que você atribui essas mudanças?
Resposta pessoal. O aluno deve destacar o tipo da luta dos afrodescendentes tendo como exemplo, o uso da legislação brasileira para assegurar os direitos sociais como  o Estatuto da Igualdade Racial (ver página 28).

d) Quais os dados que mais lhe chamaram a atenção? Por quê?
Resposta do aluno. Por exemplo, pode citar a diferença de renda que impede a igualdade social. A diferença do acesso à educação e do acesso à saúde.

e) Você concorda com as políticas que vêm sendo desenvolvidas? Por quê?
Resposta pessoal.


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