Leiam a declaração do Joaquim Barbosa, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o impeachment (ou veja o vídeo), no dia 22 de abril de 2016 em Florianópolis.
Quem não se lembra, Barbosa tornou-se uma das principais figuras políticas do país. Num ranking de 60 figuras mais poderosas no Brasil, o ex-presidente do STF aparece em 25º lugar - leia aqui.
Segundo matéria do Exame: para Joaquim Barbosa a alegação do impeachment é fraca:
"A alegação é fraca e causa desconforto. Descumprimento de regra orçamentária é regra de todos os governos da nação. Não é por outro motivo que os estados estão quebrados. Há um problema sério de proporcionalidade. Não estou dizendo que ela não descumpriu as regras orçamentárias. O que estou querendo dizer é que é desproporcional tirar uma presidente sobre esse fundamento num país como o nosso", afirmou Barbosa.
Leia outros trechos (separado por http://zh.clicrbs.com.br/):
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"A nossa presidente, ainda presidente, não soube conduzir o país. Ela não soube exercer a liderança que se espera de um chefe de Estado. Agiu como se governasse apenas para o seu grupo político e para os seus aliados políticos na ocasião. Ela não soube se comunicar com a nação, fez péssimas escolhas, cometeu erros imperdoáveis num governante dessa estatura. E o que é mais grave, para usar a expressão de um jornal europeu, a presidente não soube combater com a toda a sinceridade, não soube usar a extraordinária força do cargo que ele exerce para combater algo que vem, essa é a expressão usada pelo jornal europeu, que vem "grangrenando" as instituições do nosso país, que é a corrupção. E essa é origem de todo esse drama, de todo esse trauma que a sociedade brasileira vem passando".
"Não digo que a presidente da República compactuou abertamente com segmentos corruptos existentes em seu governo, e no seu partido, e na sua base de apoio, na sua ex-base de apoio, já que até isso desmoronou. Na verdade ela se omitiu. Não soube se distanciar claramente do ambiente deletério que a cercava, não soube exercer comando e acabou engolida por essa gente".
"Tenho sérias dúvidas quanto à integridade desse processo de impeachment que está atualmente em curso no Congresso Nacional. Vejam bem, o impeachment é desencadeada em base de uma ou algumas acusações específicas. E é sobre isso que tem que se deliberar. Aviso que a questão da corrupção na administração não faz parte dessa discussão, pelo menos não por enquanto. Sob o aspecto jurídico, eu não vejo problema. Me parece que todas as regras constitucionais legais, cautelas legais, vêm sendo observadas, vem sendo cumpridas".
"Há um problema sério com a fundamentação. Tenho uma certa dificuldade, uma mal estar como ex-magistrado, com esse fundamento. E vou explicar porquê. A Constituição e a lei brasileiras estabelecem várias possibilidades de atos de acusação a um presidente da República que podem levar a um impeachment. Vou mencionar algumas delas. uma coisa é o presidente promover pessoalmente e permitir que a corrupção campeie livremente no seio da sua administração. Uma outra coisa é o presidente usar o poder extraordinário do seu cargo para impedir que um outro poder da República funcione. Por exemplo, atacar abertamente o Poder Judiciário, fazer uso de todo o arsenal político que está a sua disposição para constranger outro poder. Outra coisa é um presidente da República por em risco a segurança do país. Com atitudes insensatas que levem, por exemplo, à guerra".
"Outra coisa muito diferente é a alegação de que o Presidente da República descumpriu regras orçamentárias. Essa alegação, ao meu ver, é fraca. E ela que promove esse desconforto. Porque descumprimento de regra orçamentária é regra em todos os governos do Brasil. Não é por outra razão que todos os Estados brasileiros estão virtualmente quebrados. Vocês perceberam a dificuldade? Não estou dizendo que a presidente não descumpriu essas regras da lei orçamentária e da lei de responsabilidade fiscal. O que estou querendo dizer é que é desproporcional, é brutal. É uma anormalidade você tirar uma presidente da República sobre esses fundamentos num país como o nosso".
"Acredito que, à medida que o tempo for passando, vão crescendo as dúvidas e os pensamentos de boa parte dos brasileiros quanto à justeza dessa destituição, que sem dúvida alguma vai acontecer dentro de duas ou três semanas. Mais do que isso, acho que essa dúvida paulatinamente se transformará em um racha profunda, uma rivalidade, um ódio entre parcela da população. A história mostra, o impeachment provoca esse tipo de paixões. Se ele não é fundamentado de maneira indiscutível, incontroversa, vai provocar esse tipo de discussão. E isso já estamos vendo no cotidiano do Brasil".
"Quanto à justeza e ao acerto político dessa medida tenho dúvidas muito sinceras. E essa a interpretação que estou dando em primeira mão para vocês. Por outro lado, tem que se levar em conta, impeachment não é só uma questão legal, do domínio dos profissionais dos direitos. É muito mais político do que jurídico. E é isso que a maior parte dos autores desse processo em curso não conseguem perceber. Estamos lidando com algo que mexe com a relação delicada que cada um e nós mantém com o Estado que governo as nossas vidas".Referências
Exame - Para Joaquim Barbosa alegação do impeachment é fracaLeia trechos da palestra de Joaquim Barbosa em Florianópolis